Em um artigo publicado terça-feira (26) na revista Nature Astronomy, cientistas planetários relatam que tornados magnéticos em Júpiter estão gerando anticiclones aproximadamente do tamanho da Terra.
Quando vórtices magnéticos descem da ionosfera até as camadas mais profundas da densa atmosfera do gigante gasoso, ocorrem essas tempestades, que são visíveis como ovais escuras, mas apenas na luz ultravioleta (UV).
Esses eventos foram detectados pela primeira vez no final da década de 1990 pelo Telescópio Espacial Hubble, da NASA, nos polos norte e sul de Júpiter. Em 2000, a sonda Cassini, também liderada pela agência espacial norte-americana, confirmou a presença dessas estruturas no polo norte do planeta durante sua passagem rumo a Saturno. No entanto, a origem desses fenômenos permaneceu desconhecida por anos.
Agora, uma equipe liderada pelo astrofísico Troy Tsubota, da Universidade da Califórnia-Berkeley, nos EUA, descobriu que esses ovais se formam a partir de tornados gerados pelo atrito entre as linhas do campo magnético extremamente forte de Júpiter. Esse processo cria vórtices que atingem a estratosfera, agitando partículas e formando as densas manchas escuras.
A descoberta foi possível graças ao projeto "Legado das Atmosferas dos Planetas Externos" (OPAL, na sigla em inglês), que utiliza imagens anuais do Hubble para monitorar as atmosferas dos planetas gigantes. "Percebemos que essas imagens eram uma mina de ouro", disse Tsubota em um comunicado, revelando que foram observados ovais escuros em 75% dos registros do polo sul de Júpiter feitos entre 2015 e 2022, mas apenas em uma foto do polo norte.
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Assim como na Terra, o campo magnético de Júpiter converge nos polos, onde direciona partículas carregadas para a atmosfera, produzindo auroras visíveis em UV. Essa semelhança sugeriu que os ovais escuros também estariam ligados ao campo magnético.
O Toro de Plasma de Io, um anel de partículas carregadas expelidas pelos vulcões da lua Io, desempenha um papel crucial. Segundo Tom Stallard, da Universidade Northumbria, o atrito entre as linhas de campo magnético do toro e da ionosfera de Júpiter desencadeia os vórtices que formam os ovais.
Esses vórtices transportam aerossóis para a atmosfera inferior, criando uma névoa densa e absorvente de UV. "A concentração de névoa nessas áreas é 50 vezes maior que a média", explicou Xi Zhang, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, coautor do estudo, reforçando que o fenômeno é impulsionado pela dinâmica dos tornados, e não por reações químicas.
Segundo o artigo, os ovais escuros levam cerca de um mês para se formar e desaparecem em poucas semanas, indicando que Júpiter atravessa regularmente um corredor de tornados magnéticos.