O James Webb liberou mais uma imagem da Galáxia do Sombrero e ela dá indícios do porquê a formação de estrelas do local pode estar com os dias contados.
A galáxia do Sombrero possui um formato espiral e detém um núcleo particularmente brilhante que fica ainda mais evidente por conta de uma faixa de poeira proeminente que percorre o disco galáctico.
Essa poeira é produto da formação de estrelas: quando morrem, elas produzem poeira que fica aglomerada em locais onde nascerão novas estrelas.
Por conta dessa composição, seu formato lembra a de um sombrero (o clássico chapéu mexicano).
Também conhecida pelos nomes M104 ou NGC 4594, ela está localizada a pouco mais de 30 milhões de anos-luz de distância da constelação de Virgem e a 100 milhões de anos-luz da Terra.
Além das características que dão a ideia de um “chapéu mexicano”, a Galáxia do Sombrero é uma das mais massivas.
A massa total de todas as estrelas da Sombrero chega a 260 bilhões de massas solares. Ou seja, são quase cinco vezes mais do que todas as estrelas da nossa Via Láctea.
Apesar de tantas estrelas, apenas metade da massa solar de gás dessa galáxia se torna efetivamente estrela ao longo de um ano.
Para se ter ideia, na prática, isso significa que, comparando com a formação de estrelas que a Via Láctea apresenta, a Sombrero possui uma formação até quatro vezes mais lenta.
A formação mais lenta de estrelas dá o indício, mas a nova imagem da galáxia registrada pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST) confirma a suspeita.
Utilizando o Instrumento de Infravermelho Médio (MIRI) do JWST, foi possível “enxergar” através das nuvens de gás e poeira quente, cortando o brilho visível de todas as estrelas e detectando a poeira fria.
Assim, nesta nova imagem, as marcas clássicas da Sombrero, que deixavam o núcleo bastante brilhante em meio ao anel escuro na borda, desapareceram, como mostra o site Space.com.
Agora, é possível ver um anel mais irregular de poeira ao redor do núcleo (que esconde um buraco negro supermassivo).
O MIRI também conseguiu captar a emissão de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs).
Essas grandes moléculas são portadoras de carbono, que é o elemento comumente encontrado em regiões de formação de estrelas. Apesar disso, para formar estrela é preciso também gás hidrogênio molecular.
A poeira, portanto, pode isolar o gás, mantendo-o frio o suficiente para sofrer colapso gravitacional necessário para formação de estrelas. Mas, por conta da taxa de formação de estrelas ser mais lenta, isso indica que não há muito hidrogênio molecular disponível na Sombrero.
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Os modelos desenvolvidos por astrônomos sugerem que essa grande protuberância que vemos na luz visível provavelmente se formou durante um evento de explosão estelar que teria ocorrido há bilhões de anos.
Neste evento, no entanto, a maior parte das matérias-primas necessárias para a produção de estrelas foi consumida. O gás que sobrou tem alimentado essa pequena taxa de formação de estrelas desde então.
Além disso, a localização da Sombrero deixa a galáxia bem isolada – ou seja, ela não possui uma galáxia vizinha com a qual poderia realizar algum tipo de troca de gás e poeira.
Ao que tudo indica, portanto, o que pode ser visto na luz visível é apenas uma imagem de um passado que não existe mais.