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Denúncias de abandono de idosos cresceram 28,17% em 2024

Especialistas apontam abandono e negligência como principal influência na degradação da saúde mental da terceira idade

Por Ana Freitas em 08/01/2025 às 15:23:39

Imagem: CABPREV

O aumento das denĂșncias de abandono e negligĂȘncia contra idosos no Brasil traz à tona a grave questão da saĂșde mental na terceira idade. Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) apontam que, em 2024, mais de 40 mil denĂșncias de violações contra pessoas com 60 anos ou mais foram registradas nos trĂȘs primeiros meses do ano — um crescimento de 28,17% em relação a 2023.

Entre as principais violações relatadas estão: negligĂȘncia (17,51%), exposição de risco à saĂșde (14,68%), tortura psĂ­quica (12,89%) e maus-tratos (12,20%). Embora o Estatuto do Idoso, instituĂ­do pela Lei n.Âș 10.741 de 2003, assegure os direitos dessa população, o aumento das denĂșncias expõe fragilidades no cumprimento da legislação.

A negligĂȘncia e o isolamento social, muitas vezes associados ao abandono, são fatores que contribuem diretamente para o agravamento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Segundo a neuropsicóloga Aline Gomes, a solidão na terceira idade não estĂĄ necessariamente ligada à presença ou ausĂȘncia de familiares, mas à qualidade das conexões. "A falta de interação significativa pode agravar problemas emocionais e fĂ­sicos, mesmo em idosos que convivem com cuidadores ou familiares", explica.

Estima-se que 20% da população idosa mundial sofra de algum transtorno mental, sendo que 7% enfrentam depressão ou demĂȘncia. No Brasil, o estigma cultural em torno da saĂșde mental dificulta a busca por ajuda. Muitos idosos e seus familiares enxergam transtornos como depressão e ansiedade como parte do envelhecimento, atrasando o diagnóstico e o inĂ­cio do tratamento.

AlĂ©m disso, a resistĂȘncia em procurar psicólogos ou psiquiatras, frequentemente associados a preconceitos como "sinal de fraqueza", ainda persiste. A pandemia, contudo, começou a romper algumas dessas barreiras, aumentando a conscientização sobre a importância do cuidado emocional em todas as idades.

Rede de Apoio

Iniciativas como a CABPREV, exemplificam ações que podem oferecer suporte jurĂ­dico e emocional aos idosos. Contudo, o enfrentamento dessa crise requer polĂ­ticas pĂșblicas mais abrangentes, que integrem saĂșde fĂ­sica e mental e combatam o estigma associado ao envelhecimento.

A neuropsicóloga Aline Gomes reforça a importância de entender e respeitar os limites de cada idoso: "O objetivo não Ă© impor soluções, mas oferecer apoio dentro das possibilidades de cada um, garantindo qualidade de vida e bem-estar."

O Brasil, com 31,2 milhões de idosos registrados em 2021, enfrenta o desafio de preparar-se para uma população mais velha que deve dobrar atĂ© 2050. Os dados de 2018 do MinistĂ©rio da SaĂșde são alarmantes, indicando que a taxa de suicĂ­dio entre idosos acima de 70 anos Ă© de 8,9 por 100 mil - quase o dobro da mĂ©dia nacional, de 5,5 por 100 mil habitantes. 

Para especialistas, a solução passa pela ampliação do acesso a serviços de saĂșde mental, pela inclusão de avaliações emocionais em consultas de rotina e pela conscientização das famĂ­lias. "Oferecer suporte emocional, promover atividades comunitĂĄrias e fortalecer vĂ­nculos familiares são passos essenciais para melhorar a qualidade de vida dos idosos", destacam os psicólogos Êdela Nicoletti e Vinicius Dornelles.

Fique atento 

Para identificar possĂ­veis transtornos, familiares e cuidadores devem prestar atenção em sinais como mudanças no apetite, no sono, falta de interesse em atividades, irritabilidade e isolamento. AlĂ©m disso, emoções manifestadas de forma mais sutil, como choros contidos ao olhar fotos antigas ou ao conversar com alguĂ©m por vĂ­deo, tambĂ©m podem indicar um sofrimento emocional. "É crucial observar essas mudanças e buscar ajuda especializada, como um psicólogo ou psiquiatra, para oferecer o suporte necessĂĄrio e evitar o agravamento de problemas emocionais", apontam os especialistas. 

Outra maneira de preservar a saĂșde mental nesta faixa etĂĄria Ă© com atividades como leitura, exercĂ­cios fĂ­sicos regulares, jogos que estimulam o cĂ©rebro, socialização e aprendizado de novas habilidades. A interação com pets tambĂ©m Ă© extremamente benĂ©fica, proporcionando companhia e momentos de afeto. Sistemas eletrônicos, como a Alexa, podem ser aliados surpreendentes. 

"Uma senhora que foi nossa babĂĄ e mora conosco atĂ© hoje, agora com 94 anos, conversa frequentemente com a Alexa, pedindo para tocar mĂșsicas para ela dançar ou para fazerem uma oração juntas. Essas pequenas ações não apenas mantĂȘm a mente ativa, mas tambĂ©m trazem conforto, alegria e um senso renovado de propósito", contam os psicólogos Êdela Nicoletti e Vinicius Dornelles.

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