A Secretária de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, está no centro de uma polêmica após atribuir a falta de vagas na rede pública de ensino ao aumento do número de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A declaração, feita em entrevista à imprensa, gerou forte reação de movimentos sociais, organizações e entidades comprometidas com a justiça social e os direitos humanos, que classificaram a fala como capacitista e desumana.
Em nota conjunta, os movimentos sociais exigem uma retratação pública da secretária e a implementação de ações concretas para ampliar e melhorar a rede pública de ensino, com foco no fortalecimento de políticas educacionais inclusivas.
Nota de Repúdio
"Nós, movimentos sociais comprometidos com a justiça social e os direitos humanos, manifestamos nosso profundo repúdio à fala da Secretária de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, que atribuiu a falta de vagas na rede pública de ensino ao aumento do número de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede.
Essa declaração não apenas reforça preconceitos e atitudes capacitistas, como também negligencia a responsabilidade do Estado em planejar e garantir o acesso à educação para todas as crianças, conforme assegurado pela Constituição Federal.
Apontar estudantes com deficiência como 'culpados' por falhas estruturais e de gestão educacional é uma atitude desumana e inaceitável. É dever do poder público investir em inclusão, ampliar vagas, formar profissionais qualificados e assegurar condições dignas para que todas as crianças, independentemente de suas especificidades, tenham acesso ao direito fundamental à educação.
A educação inclusiva é um pilar essencial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, e qualquer discurso que culpe crianças com TEA ou outras deficiências pelas dificuldades do sistema educacional deve ser combatido com veemência.
Como representantes de diversos movimentos sociais, testemunhamos diariamente a luta de crianças, adolescentes e jovens para terem suas potencialidades reconhecidas e seus direitos respeitados. Não admitiremos que o Estado, por meio de seus representantes, desvie sua responsabilidade e promova discursos que segregam e marginalizam.
Exigimos uma retratação pública por parte da Secretária Hélvia Paranaguá e, mais do que isso, ações concretas para a ampliação e melhoria da rede pública de ensino, com o fortalecimento de políticas educacionais inclusivas. É urgente que o poder público assuma o compromisso de construir um sistema educacional que respeite as diversidades e garanta condições adequadas para o aprendizado de todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Seguiremos unidos e mobilizados na luta por uma educação pública, inclusiva e de qualidade para todos e todas!"
Assinaram a nota:
MAMA - Movimento Autônomo de Mães;
ABRACI - Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção;
ABRAÇA - Associação Brasileira para ação por Direito de Pessoas Autistas;
Frente Parlamentar em Defesa da Educação Inclusiva CLDF;
Marcha Mundial das Mulheres - Distrito Federal;
AMORA - Movimento de Moradia do DF e Entorno;
UNMP - União Nacional por Moradia Popular DF;
CUT/DF - Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal;
Coletivo Filhas da Mãe;
Associação Tereza de Benguela;
União da Juventude Comunista;
Autistas Brasil;
Mulheres Poderosas - DF;
Associação DFDown;
PIPA - Pedagogia Inclusiva Pelas Artes;
Rede Solidária de Apoio à Inclusão - Resai;
Coletivo da Advocacia com Deficiência e Neurodivergentes;
Instituto PAS - Gama;
Coletivo Borda Luta;
Instituto Ápice Down;
MAR - Movimento Altiplano Rural;
Associação Preserva Serrinha;
Comitê Popular de Luta Rede Lular;
SINPRO - DF.
A declaração da secretária também levantou debates sobre o planejamento e gestão da educação no Distrito Federal, com especialistas apontando que o problema da falta de vagas está relacionado à necessidade de maior investimento público, formação de profissionais e infraestrutura adequada.
Até o momento, a Secretária de Educação não se pronunciou sobre a nota de repúdio.