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Contaminação por agrotóxicos no Brasil cresce 950% em 2024

País é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta, com 720 mil toneladas de pesticidas para uso agrícola

Por Ana Freitas em 11/01/2025 às 08:00:00

Imagem: freepik

A contaminação por agrotóxicos no Brasil no primeiro semestre de 2024 chegou a 182 casos, um aumento de 950% em comparação aos 19 registros de 2023, conforme apontam os dados da Comissão Pastoral da Terra.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta, com 720 mil toneladas de pesticidas para uso agrícola, de acordo com os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A quantia representa quase 60% a mais do que a utilizada pelos Estados Unidos, que ocupa o segundo lugar do ranking mundial.

Apesar dos agrotóxicos serem utilizados para preservar plantações contra insetos, bactérias e fungos, frequentemente apresentam impactos negativos à saúde humana, ainda mais para quem trabalha cotidianamente com as substâncias. Para o professor de Clínica Médica na Universidade Católica de Brasília, Leandro Machado, a melhor forma de lidar com esses materiais é investindo em tecnologias seguras e fiscalização.

Entre 2013 e 2022, mais de 84 mil casos de intoxicação exógena por agrotóxicos foram registrados no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Apenas no período de 2019 a 2022, mais de 14 mil pessoas foram intoxicadas, com 439 mortes — uma média de um óbito a cada três dias. O Ministério da Saúde do Brasil admite que o número de subnotificações é elevado e que o número real de pessoas intoxicadas pode ser maior. Segundo o professor Leandro, esses números revelam não apenas a gravidade do problema, mas também a vulnerabilidade de populações expostas.

"Trabalhadores rurais são os mais afetados pela exposição direta e constante aos agrotóxicos. A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e de fiscalização agrava ainda mais a situação. Para muitos, a exposição não é apenas uma questão ocupacional, mas também uma ameaça à qualidade de vida e à saúde familiar", afirma.

Consumo

Segundo a Anvisa, em 2022 um em cada quatro alimentos de origem vegetal no país continham resíduos de agrotóxicos, proibidos ou em níveis superiores ao permitido por lei.

O acesso a alimentos seguros é um direito do consumidor. Nesse sentido, o papel dos consumidores é crucial para a construção de um mercado mais responsável, onde as práticas agrícolas e alimentícias se alinhem cada vez mais com a saúde pública e com a demanda por alimentos mais seguros.

Algumas recomendações válidas são:

  • Lave bem os alimentos: lavar frutas, verduras e legumes em água corrente pode ajudar a reduzir a presença de resíduos de agrotóxicos. Esfregar superfícies, utilizar soluções de bicarbonato de sódio ou vinagre e remover cascas e folhas externas sempre que possível são alternativas que garantem a melhor higienização possível.

  • Prefira o consumo de alimentos da época ou aqueles produzidos com técnicas de manejo integrado de pragas, que, em geral, recebem carga menor de produtos, o que reduz a exposição a agrotóxicos. Alimentos orgânicos também são uma alternativa, mas sua acessibilidade ainda é um desafio.

Os sintomas de intoxicação variam de acordo com o tipo e a intensidade da exposição. Manifestações agudas incluem dores de cabeça, náuseas, sudorese excessiva e dificuldade respiratória. Casos mais graves podem envolver confusão mental, convulsões e parada cardiorrespiratória. A exposição prolongada está associada a problemas crônicos, como distúrbios neurológicos, alterações hormonais, infertilidade e câncer, informa o professor Leandro Machado.

De acordo com o Atlas dos Agrotóxicos, estudo coordenado pela Fundação Heinrich Böll Brasil,  o  Sistema Único de Saúde (SUS) pode gastar até R$ 150 por caso de intoxicação por agrotóxicos, totalizando um custo estimado anual de R$ 45 milhões. O custo para o SUS pode chegar a US$ 1,28 para cada US$ 1 investido em pesticidas, a depender do tratamento.

Segundo o professor esse custo tem justificativa. "Diagnosticar a intoxicação não é simples. Exames laboratoriais, como a detecção de metabólitos no sangue e na urina, aliados a um histórico detalhado de exposição, são fundamentais para confirmar o diagnóstico. Contudo, a limitação de recursos em áreas rurais dificulta o acesso a esses procedimentos", explica.

Prejuízos ambientais

Além de problemas de saúde, o uso de agrotóxicos também é um dos grandes responsáveis pela poluição. Segundo a ativista e especialista em desenvolvimento sustentável, Victória Rocha, os agrotóxicos são os grandes responsáveis por alterar a composição química do solo, reduzindo a disponibilidade de nutrientes essenciais para as plantas e aumentar a acidez do solo, além de ser tóxico para os animais.

"Os agrotóxicos são prejudiciais para polinizadores como abelhas, borboletas e pássaros. Quando esses animais entram em contato com agrotóxicos, podem sofrer desorientação, paralisia e a morte. Ocorre também a contaminação do néctar e pólen tornando-os tóxicos para os polinizadores, isso leva à ingestão de substâncias tóxicas, afetando a saúde e a capacidade reprodutiva", explica a especialista.

O uso de agrotóxicos também afeta a água e o ar. "A exposição aos agrotóxicos pode contaminar os principais compartimentos ambientais, incluindo o ar, e expor um maior número de pessoas a seus efeitos tóxicos. Após a aplicação muitos agrotóxicos passam do estado líquido ou sólido para o gasoso, entrando assim na atmosfera. Até 80% do produto aplicado pode se perder por volatização", complementa.

Segundo a especialista, o modelo do agronegócio brasileiro depende fortemente de agrotóxicos, já que se baseia em práticas como monocultura, agricultura intensiva e convencional e agricultura de precisão. Apesar de existirem alternativas sustentáveis, como a agricultura orgânica, práticas agroecológicas e o manejo integrado de pragas, essas práticas ainda não são amplamente adotadas.

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